sexta-feira, 13 de junho de 2008

Frágil como uma flor

Com este blog para além de explorar a auto-mutilação, eu pretendo não ficar só por ai e falar também dos meus sentimentos e de outros assuntos que ache pertinentes.


Esta semana fui a uma consulta de psiquiatria no Hospital São Marcos em Braga, apesar de ir contra a minha vontade… Tudo aquilo me pareceu muito estranho e deprimente. Senti que estava cada vez mais perto de ficar maluca. Olhava à minha volta e só via crianças, pessoas que por de trás daquele rosto escondem mágoas e sofrimento… Comecei a tomar consciência que se eu estava ali é porque também estou de certa forma como elas.


Senti-me presa naquele local, da qual não podia sair, a vontade que eu tinha era de fugir, pois não tinha vontade nenhuma de falar com uma pessoa sobre o que se passa na minha vida sem saber se essa pessoa ia realmente perceber tudo que sinto. Só queria fugir, andar sem destino. Pois é assim que me sinto sem destino…











Cada dia que passa eu penso que é mais um dia no caminho para a loucura. Tiraram-me tudo o que me fazia viver e que muitas vezes me leva a não cometer mais um acto de auto-mutilação. Tiraram-me o meu sonho, o paraquedismo. Bastou um médico falar para decidir o meu futuro, se é que ele existe… Sempre tive tanto cuidado para que nada impedisse o paraquedismo e de repente vem um médico e diz-me que nunca mais vou poder praticar paraquedismo.


Sinto-me uma pessoa incapacitada e frágil como uma flor. Todos os que me rodeiam mesmo sem se aperceberem fazem-me sentir assim, frágil como uma flor.


Sinto-me sem rumo e sem qualquer plano para o futuro, pois retiraram-me todos, com uma simples palavra de um médico.














sábado, 7 de junho de 2008

Uma questão de escolha…





Enquanto o Verão não chega é muito mais fácil esconder os diversos cortes no nosso corpo, mas não é eternamente Inverno e um dia o Verão chega, e nesse momento tem-se duas escolhas possíveis a fazer... ou se esconde o mais possível de tudo e de todos usando roupa que tape e deixamos de poder usar aquela camisola que tanto gostamos, e a praia então é para esquecer. Vivemos num constante sobressalto com medo que alguém veja os nossos cortes, uma eterna frustração, fugindo até das pessoas que mais amamos.
A outra escolha é admitir perante todos o que se faz e ai tem-se que sofrer com as consequências dos nossos actos. Fazemos sofrer quem gosta de nós, as pessoas na rua olham de cima a baixo tentando disfarçar os olhares indisfarçáveis cheios de pena ou de juízos de valores sobre uma pessoa que nem sequer conhecem.
Na escola, ou simplesmente no local de trabalho toda a gente vai comentar e os mais curiosos e maldosos vão perguntar o que temos nos braços, sabendo perfeitamente do que se trata. Tudo só para satisfazer as suas curiosidades e poderem falar depois… Quando menos se espera surge uma pessoa a fazer-nos as mesmas perguntas que enumeras pessoas já fizeram e ai vamo-nos sentir mal, com vontade de fugir daquela situação ….











Eu escolhi assumir que sofro de auto mutilação, pois sempre assumi o que faço na minha vida, não era agora que me ia esconder. Quando tomei esta decisão estava consciente das consequências que poderia ter mas mesmo assim não me escondi, pois não ia deixar de usar certas camisolas e andar cheia de calor por causa dos outros.
Também decidi assumir perante toda a gente porque acho que não devo estar calada e parada se poder ajudar alguém na mesma situação ou até mesmo ser um exemplo para que mais ninguém o faça. Iria sentir-me muito feliz de saber que com o meu testemunho pude ajudar alguém.
Penso que o sítio onde tive mais receio de me revelar foi na escola, porque é o ambiente onde eu estou mais tempo e ai tem o problema das bocas que ouço e sabia que ia ouvir, mas mesmo assim não me arrependo de o ter feito, pois sinto que muitas das bocas são de uma total ignorância e passam-me ao lado. Quando alguém por maldade me perguntar o que eu fiz, eu respondo, o que tu nunca deves fazer…
Tento alertar que este problema existe e que não sou a única pessoa a passar por ele, mas infelizmente ainda há muito a tendência de se querer esconder este problema, como se ele não existisse, mas a realidade é que ele existe e tem que ser resolvido.